top of page
Buscar

Como manter a ereção durante o sexo sem broxar?

  • Foto do escritor: Lucas Liberato
    Lucas Liberato
  • 12 de dez.
  • 11 min de leitura

Atualizado: 13 de dez.

Entenda por que a ereção falha, mesmo com desejo, e o que realmente ajuda

Essa é uma das queixas mais comuns que chegam ao consultório. Muitos homens descrevem a mesma experiência: o desejo está ali, a fantasia existe, o interesse pelo outro é claro, mas o corpo não responde como esperado.

Se você chegou até aqui buscando algo como “como manter a ereção”, “por que eu broxo”, "como não broxar", “disfunção erétil psicológica” ou “por que só consigo transar às vezes”, saiba que você não está sozinho.

A maioria dos homens não aprendeu, em nenhum momento da vida, a entender como a ereção funciona de verdade. Aprenderam a cobrar, se comparar e fingir segurança.

Este artigo não é um manual de desempenho, mas sim um convite a compreender o que acontece com o seu corpo quando a ereção não atende suas expectativas. Mas, principalmente, te ajudar a refletir sobre o que pode ajudar a melhorar sua relação com o sexo para além da ideia de “funcionar”.

Mesmo com todo o tesão do mundo, as vezes o amigão não responde. E faz parte, é do jogo.

A ereção costuma ser pensada como algo simples, quase automático.

Se há desejo (ou até só porque você quer), ela "deveria" acontecer.

Se não aconteceu, algo estaria “errado”.

Na prática, a realidade é bem diferente. A ereção é uma resposta corporal complexa, influenciada por fatores físicos, emocionais, relacionais e contextuais. Do ponto de vista biológico, a ereção depende de um conjunto de fatores: um fluxo sanguíneo adequado, funcionamento neurológico e níveis hormonais equilibrados, além de um estado emocional que permita relaxamento e resposta ao estímulo. Quando um desses sistemas está comprometido — por estresse, ansiedade, saúde geral ou atitudes vigilantes em relação ao desempenho — a resposta erétil tende a ser prejudicada. A literatura médica reconhece que tanto causas psicológicas quanto orgânicas podem coexistir e influenciar a ereção.

Também vale dizer: falha de ereção não é sinônimo de “impotência” e não significa automaticamente disfunção erétil. Muitas vezes é ansiedade, cansaço, pressão, álcool, falta de segurança e excesso de cobrança. Em outras, pode ter fator de saúde mesmo. É por isso que eu gosto de separar episódio, padrão e sofrimento, antes de qualquer conclusão.

Medicações como tadalafila e sildenafila, trouxeram para muitos homens a ilusão de que esse problema está superado. 20mg de tadala e 36 horas de tranquilidade.

Mas eu já recebo relatos de que mesmo assim, às vezes ainda há problemas. Claro que o azulzinho e seus semelhantes mudaram MUITO toda a relação com o pênis e a penetração.

Mas melhorar a qualidade da sua relação com seu pênis, a ereção e a penetração... Bem, aí o buraco é mais embaixo.

Entre homens que fazem sexo com homens, esse processo costuma ser ainda mais atravessado por expectativas pesadas de performance, comparação constante e pela ideia de que uma ereção totalmente firme, contínua e imutável seria condição básica para que o sexo dê certo.

Na maioria das vezes, o problema não está no desejo sexual em si, mas na forma como a ereção passa a funcionar como um teste de valor pessoal, virilidade ou competência sexual, fazendo com que o sexo se torne uma prova, deixando o corpo em estado de alerta, não de prazer.


Por que a ereção pode falhar mesmo quando há desejo?

Do ponto de vista fisiológico, a ereção depende de um bom fluxo sanguíneo, da integridade neurológica e de um estado geral de excitação que não esteja sabotado por estresse intenso, ansiedade ou exaustão. Psicologicamente, ela é profundamente sensível à atenção. Mas veja, atenção no momento, na experiência da excitação, do desejo e dos estímulos! Agora, se essa atenção é voltada apenas para o quanto está duro, se vai falhar, quanto tempo vai durar e no que o outro está pensando... O que temos, na verdade, não é atenção mas sim vigilância.

E isso tira toda a diversão do sexo e é um veneno para a qualidade da ereção.



O que realmente é broxar?

O estado natural do pênis é estar flácido. A ereção é a exceção, não a regra. Trata-se de um estado transitório em um órgão vivo, que não é uniforme, não acontece sempre do mesmo jeito e varia naturalmente ao longo do tempo. Por isso, é absolutamente normal que, durante uma experiência sexual, o pênis fique menos rígido ou até volte à flacidez em alguns momentos. Chamar qualquer uma dessas variações de “broxar” costuma confundir mais do que esclarecer.

A ereção é um fenômeno neurovascular, que depende da integração entre cérebro, sistema nervoso, vasos sanguíneos, hormônios e contexto emocional. De forma simples, ela acontece quando o corpo entra em um estado de permissão para o prazer. Estímulos sexuais podem ser físicos, visuais, imaginativos ou emocionais, e só produzem ereção quando são interpretados como seguros e desejáveis. Nesse cenário, o sistema nervoso parassimpático assume o comando, sinalizando que não há ameaça imediata e que o corpo pode se orientar para o prazer. Durante qualquer experiência sexual saudável, a ereção oscila: ela aumenta, diminui e se reorganiza conforme mudanças no ritmo, variações de estímulo, posições, foco da atenção, estados emocionais, nível de cansaço e a interação com o parceiro ou parceira. Essas variações fazem parte do funcionamento normal da excitação peniana. Esperar uma ereção constante, rígida e ininterrupta do início ao fim da relação é uma expectativa irreal, construída muito mais por narrativas culturais e pela pornografia do que pela fisiologia real do corpo.

É justamente aí que muitas pessoas passam a se perguntar se estão diante de uma disfunção erétil, termo que no passado era chamado de impotência. Do ponto de vista clínico, disfunção erétil não é sinônimo de falha ocasional. Falhas pontuais fazem parte da variabilidade normal da resposta sexual humana. O problema surge quando a dificuldade em obter ou manter uma ereção ocorre de forma frequente ou persistente, gera sofrimento, ansiedade antecipatória, evitação de encontros sexuais ou prejuízo na vida afetiva. Mesmo nesses casos, é importante afirmar: a falha não define o homem, não mede desejo, não mede masculinidade. Entender que o pênis não funciona como um interruptor ligado ou desligado, mas como um órgão sensível ao contexto, ajuda a deslocar o foco do desempenho para a experiência sexual como um todo.



E a ansiedade de desempenho?

O que passamos a chamar de ansiedade de desempenho - sentimentos ansiosos ao redor da performance sexual ainda por acontecer - tem ocupado um espaço cada vez maior na experiência sexual da maioria dos homens. Especialmente em situações como sexo casual, primeiras experiências com uma parceria, situações de maior exposição corporal (luz acesa, praia, sex clubs) ou quando há diferenças percebidas de idade, corpo, papel sexual ou experiência entre os parceiros. Nessas situações, a ansiedade de desempenho ganha tanto espaço, que se sobrepõe ao prazer, ocupando o espaço que daria sustentação ao desejo.

É importante lembrar que ereção não é sinônimo de desejo. É possível desejar intensamente alguém e, ainda assim, o corpo não responder naquele momento. Sono ruim, uso de álcool ou outras substâncias, ansiedade social, experiências anteriores de falha, além de quadros como depressão e burnout, interferem diretamente na resposta erétil. Tentar “forçar” a ereção costuma piorar o cenário, alimentando um ciclo de frustração, autocobrança e antecipação negativa.

Assim como na ejaculação prematura, a ansiedade de desempenho e a vigilância corporal também impactam diretamente a ereção. Em muitos casos, dificuldades de ereção e ejaculação estão interligadas: a preocupação com broxar pode acelerar a excitação até o orgasmo ou, inversamente, a tensão para “não broxar” pode bloquear a ereção. Entender essas duas experiências como parte de um mesmo campo relacional com o próprio corpo ajuda a nomear melhor o problema e a encontrar caminhos de intervenção mais eficazes. Para aprofundar essa perspectiva específica sobre o ritmo da excitação e a ansiedade que cerca o orgasmo, confira também nosso texto sobre ejaculação prematura e o que realmente ajuda.


Chemsex e o impacto do uso de substâncias no sexo entre homens

Nos últimos anos, especialmente entre homens que fazem sexo com homens, a relação com a ereção passou por transformações importantes com a popularização do sexo associado ao uso de substâncias, em contextos muitas vezes chamados de chemsex. Drogas como metanfetamina, GHB, mefedrona ou cocaína têm um impacto direto no funcionamento sexual, alterando percepção, excitação, tempo e resposta corporal. Em muitos casos, essas substâncias tornam a ereção espontânea difícil ou praticamente impossível, mesmo na presença de desejo intenso.

Nesse cenário, o uso de medicamentos para ereção em doses elevadas passa a ser regra. Ainda assim, não é raro que, mesmo com tadalafila ou sildenafila, a ereção não se sustente. Isso gera frustração, confusão e uma sensação de falha ainda maior, porque o corpo parece não responder nem com estímulo químico, nem com desejo.

Na clínica, é cada vez mais comum escutar homens que associam suas dificuldades de ereção não apenas à ansiedade com o sexo em si, mas com novos fatores como só se interessar pelo sexo sob efeito de substâncias e não confiar na própria ereção sem os remédios.

Falar sobre ereção nesse contexto exige cuidado para não moralizar o uso de substâncias, mas também para não ignorar seus efeitos reais. O corpo responde a estímulos químicos intensos, a longos períodos de excitação artificial e a contextos em que descanso, fome, hidratação e limites corporais são frequentemente ultrapassados. Entender essa dimensão ajuda a deslocar a pergunta de “por que eu não consigo ter ereção?” para “o que está sendo exigido do meu corpo para que o sexo aconteça?”.


O que realmente ajuda a lidar com dificuldades de ereção?

Na terapia, raramente vemos bons resultados quando a pessoa busca apenas soluções rápidas. O manejo mais saudável passa por compreender padrões, reduzir a pressão interna e ampliar o repertório sexual e emocional. Quando o foco fica restrito ao sintoma, o problema tende a se manter.

Manter a ereção não é uma habilidade que se conquista pela força de vontade.

Quanto mais alguém tenta “controlar” a ereção como se fosse um músculo obediente, mais ela tende a escapar. A ereção responde melhor a segurança, previsibilidade emocional e liberdade de variação do que a comando e cobrança.

Em outras palavras: a ereção se sustenta melhor quando não está sendo colocada à prova, para passar ou não.


Dicas práticas

Muitos homens me perguntam: “mas então, o que eu faço para não broxar?”

Talvez a pergunta mais produtiva seja: o que, na minha experiência sexual, está tornando tão arriscado não funcionar?

A resposta costuma estar menos no pênis e mais na história que se construiu em torno dele.


  • Seu corpo não precisa ser vigiado - Quanto menos a ereção é monitorada, mais espaço o corpo tem para responder. Já percebeu que quando nos sentimos vigiados, por vezes esquecemos como fazer até algo simples? Imagine o impacto que essa sensação de vigilância tem sobre algo tão sensível e mutável quanto a ereção.

  • Amplie o repertório de prazer - Sexo não começa nem termina no pênis. Pode parecer contraintuitivo, mas quanto menos atenção e foco for dedicado ao pênis diretamente, melhor será sua experiência sexual. Por exemplo, no que costumamos chamar de preliminares (mas que na realidade já é sexo), o quanto você foca apenas nos ditos órgãos genitais? E o quanto você se dedica a explorar o restante do corpo, o seu e o do outro?

  • Observe padrões

    • A dificuldade acontece sempre ou apenas em contextos específicos?

    • Eu costumo orientar meus pacientes a observar como foi a progressão dessa dificuldade. Sempre foi difícil ter uma ereção que você considere satisfatória? Há situações em que sempre tem problemas?

    • Há pensamentos que surgem sempre nas situações em que tem ereções insatisfatórias?

    • Você sabe descrever como é o tipo de ereção que costuma ter e que considera satisfatória?

    • Você presta atenção na maneira como seu corpo, por inteiro, se comporta durante sua excitação?

  • Inclua pausas e exploração sensorial — dedicar atenção a sensações corporais menores (respiração, toque leve, contato visual) pode aliviar a pressão sobre a ereção e reduzir a ansiedade de desempenho. Estudos sobre sexualidade indicam que foco excessivo em resultados tende a ativar o sistema simpático, que interfere no fluxo erétil.

  • Soluções rápidas, tem duração rápida - É claro que os medicamentos pra ereção são uma realidade e são super úteis. Mas analgésicos não curam as causas da dor de cabeça. Precisamos buscar, dentro de nós mesmos, nos nossos corpos, as respostas e os caminhos pra melhorar nossa relação com a sexualidade como um todo e a ereção é apenas parte dela. Medicamentos são muito úteis, mas não substituem uma avaliação médica e psicológica quando a dificuldade é frequente.

Quando alguém só consegue manter a ereção com medicamentos, vale investigar com cuidado se o remédio está ajudando o corpo ou apenas silenciando a ansiedade.

Medicamentos podem ser aliados importantes. O problema começa quando se tornam a única fonte de segurança sexual. Nesse ponto, a ereção acontece, mas a autonomia não.


Quando procurar ajuda profissional?

Quando você sentir que está pronto para receber ajuda. Que está pronto para se permitir aprender a falar sobre isso, a olhar pra isso sem virar o rosto, sem impaciência. A lidar com seu desapontamento consigo mesmo, com as suas expectativas não atendidas, com sua pressa.

Quando sentir que está pronto para começar a aprender como respeitar seu corpo.

Que está disposto a olhar pra sua sexualidade com os olhos de um adulto, que enxerga a sexualidade possível, não a idealizada.

Quando a dificuldade de ereção se torna recorrente, gera sofrimento, leva à evitação de encontros ou compromete a relação com o sexo, buscar ajuda especializada não é exagero, nem frescura, é cuidado. A combinação de avaliação médica com acompanhamento psicológico/terapia sexual costuma ser mais eficaz do que abordagens isoladas.

Questões ligadas à sexualidade raramente se resolvem apenas com informação, com um conteúdo da Internet (mesmo esse!).

A sexualidade precisa de escuta, de ser vista, de se sentir respeitada e acima de tudo, de tempo e segurança para elaborar sem se sentir julgada.


Perguntas frequentes sobre ereção

Se você está lendo este texto buscando respostas rápidas, talvez fique frustrado.

Se está lendo buscando entender melhor o que acontece com seu corpo, provavelmente encontrará aqui mais do que técnicas: encontrará permissão para diminuir a pressa e a violência com que muitos homens aprenderam a tratar a própria sexualidade.


É normal a ereção falhar mesmo quando há desejo?

Sim. Desejo, excitação e ereção são processos diferentes. É possível sentir desejo intenso e, ainda assim, o corpo não responder, especialmente em contextos de ansiedade, estresse ou vigilância corporal excessiva.


A dificuldade de ereção significa falta de desejo sexual?

Não. Na maioria dos casos, a dificuldade está relacionada a fatores emocionais, atenção excessiva ao desempenho ou ao funcionamento do sistema nervoso, e não à ausência de desejo.


Ansiedade pode causar falha de ereção?

Sim. A ansiedade ativa o sistema de alerta do corpo, interferindo diretamente na resposta erétil. Esse é um dos motivos mais comuns de falha de ereção, inclusive entre homens jovens e saudáveis.


Quando devo procurar ajuda profissional?

Quando a dificuldade é frequente, causa sofrimento, impacta a autoestima ou interfere nas relações, é indicado buscar avaliação médica e acompanhamento psicológico.


Broxar uma vez significa que isso vai acontecer sempre?

Não. A maior parte das dificuldades de ereção não segue uma lógica linear. Uma experiência negativa pode aumentar a ansiedade na próxima vez, mas isso não define seu funcionamento sexual para sempre. Quanto mais cedo a experiência é compreendida, menor a chance de ela se cristalizar como padrão.


Como a terapia pode ajudar

Muitos homens só procuram ajuda quando já estão evitando o sexo ou vivendo a sexualidade com tensão e medo constantes.

Cuidar da ereção não é apenas mantê-la firme, um impávido colosso. A meu ver, ereções satisfatórias, são uma expressão de um corpo que se sente relaxado e aberto ao prazer. Tornar o sexo um lugar menos ameaçador para o corpo.

Em nossa clínica, o trabalho terapêutico parte do princípio de que sexualidade não se reduz ao desempenho ou mesmo à prática sexual em si. O corpo e a identidade sexuais vão muito além.

Oferecemos terapia online com profissionais especializados em sexualidade, afetos e experiências LGBTQIA+, a partir de uma ética afirmativa, cuidadosa e sem pressa. Cada história é escutada em sua singularidade, sem modelos rígidos do que “deveria” funcionar.


Referências e leituras recomendadas

Bancroft, J. (2009). Human Sexuality and Its Problems. Elsevier.

Tiefer, L. (2012). Archives of Sexual Behavior.

Wespes, E. et al. (2013). EAU Guidelines on Male Sexual Dysfunction.

Manual MSD. Disfunção erétil.

Sociedade Brasileira de Urologia. Disfunção erétil.

Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem.

Conselho Federal de Psicologia. Referências técnicas em sexualidade.


Observação editorial: Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica ou acompanhamento psicológico individualizado.

 
 
 

Comentários


bottom of page