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Ejaculação prematura (ou precoce): por que você goza rápido e o que realmente pode ajudar

  • Foto do escritor: Lucas Liberato
    Lucas Liberato
  • há 5 dias
  • 9 min de leitura

Um olhar cuidadoso sobre controle, prazer e ansiedade sexual

Se você chegou até aqui buscando algo como “ejaculação precoce”, “gozo rápido”, “ejaculo muito rápido”, “não consigo segurar” ou “ejaculação prematura psicológica”, é provável que esteja tentando responder a uma pergunta que raramente é feita em voz alta: por que meu corpo está com pressa quando eu queria ir mais devagar?

A ejaculação prematura costuma ser resumida à ideia de “gozar rápido demais”. Essa definição simplifica demais uma experiência que, para muitos homens, é atravessada por vergonha, frustração, medo de decepcionar a parceria e uma sensação persistente de falha. Na clínica, raramente essa queixa aparece sozinha. Ela costuma vir acompanhada de ansiedade de desempenho, hipervigilância corporal e uma relação tensa com o próprio prazer.

Antes de seguirmos, vale um esclarecimento importante: Atualmente, na clínica e na literatura especializada, o termo mais adequado é ejaculação prematura. Ele descreve melhor um fenômeno ligado ao tempo, ao ritmo e à vivência da excitação, sem carregar o julgamento implícito de erro, inadequação ou falha que costuma acompanhar o uso da palavra “precoce”.

Ao longo deste texto, menciono ejaculação precoce apenas porque esse ainda é o termo mais utilizado nas buscas na internet e pelo público em geral. Muitas pessoas chegam aqui procurando exatamente por essa expressão. A partir daqui, porém, utilizarei prioritariamente ejaculação prematura, que é o termo mais cuidadoso e preciso.

Entre homens que fazem sexo com homens, esse sofrimento e essa preocupação com durar o máximo possível, podem ser ainda mais silenciados. Existe uma expectativa implícita de resistência, controle e disponibilidade constante, como se o corpo precisasse funcionar sem falhas.

Assim como acontece com a ereção, a ejaculação costuma ser tratada como algo que deveria obedecer à vontade. Como se fosse possível decidir, racionalmente, quando gozar, da mesma forma que se decide quando parar ou começar um movimento. O problema é que a ejaculação não responde bem à lógica do controle rígido. Ela responde a estados corporais, emocionais e relacionais. Quanto mais pressão existe para “segurar”, mais o corpo tende a acelerar.

É importante dizer desde o início: não existe um tempo “normal” universal para ejacular. A literatura científica mostra uma enorme variabilidade individual. O que transforma a ejaculação prematura em um problema clínico não é a duração em si, mas o sofrimento, a frustração e o impacto que isso gera na autoestima, no prazer e nos vínculos.


Por que a ejaculação prematura acontece?

Do ponto de vista fisiológico, a ejaculação é um reflexo complexo, regulado por sistemas neurológicos e hormonais. Algumas pessoas têm, de fato, um limiar de excitação mais baixo (ou seja, precisam de menos estímulo para atingir níveis elevados de excitação). Outras se excitam muito rapidamente quando o contexto está carregado de expectativa, pressão ou ansiedade. Isso não é defeito. É um modo de funcionamento que pode ser compreendido e trabalhado.

Muitos homens aprendem, desde a adolescência, a se excitar de forma acelerada. Masturbações rápidas, silenciosas, feitas com medo de serem interrompidas, ensinam o corpo a ir direto ao orgasmo, sem tempo para explorar sensações intermediárias. Quando esse padrão se mantém na vida adulta, especialmente em contextos sexuais que continuam marcados por cobrança ou desempenho, a ejaculação prematura tende a se repetir.

A maioria dos homens começou a se masturbar ali pelo começo da adolescência e de uma maneira ou outra, o objetivo era gozar.

Ainda que de forma bem diferente do que acontece com as mulheres, a sexualidade masculina é muito mais imposta do que parece na superfície. Ainda que a sexualidade de nossa sociedade seja profundamente ligada a atender ao prazer masculino heteressexual, essa padronização do desejo e do sexo, tem um impacto pesadíssimo em todos os homens também. Quando a sociedade sufoca a diversidade de experiências, enforçando padrões, qualquer experiência que desvie começa a ser um problema.

Muitos homens nunca aprenderam a reconhecer o próprio ritmo de excitação. Aprenderam apenas a chegar ao orgasmo. E sabemos que é inclusive possível ejacular com pouco ou nenhum prazer. Quando a excitação cresce rápido demais, não há tempo para perceber transições, variações ou sinais intermediários.

Psicologicamente, a ejaculação prematura costuma estar ligada a uma dificuldade de permanecer no próprio corpo durante a excitação. Pensamentos antecipatórios como "não posso gozar rápido", “preciso segurar” ou “não posso falhar” e tantos outros que correm pela mente de tantos de nós, afastam a atenção das sensações corporais mais sutis. O corpo entra em modo de urgência, que nos acelera.

Essa urgência, surge de toda essa complexa rede de significados e cobranças que aprendemos a atribuir ao corpo e ao sexo. O medo do julgamento, a comparação, as expectativas cada vez mais altas... Será que ainda lembramos como ir devagar?


O que realmente ajuda (e o que costuma atrapalhar)

Na terapia, intervenções mais eficazes raramente focam apenas em “atrasar” a ejaculação. Elas trabalham uma mudança mais profunda na relação com o prazer, com o corpo e com o tempo.

Muitas abordagens tratam a ejaculação prematura como um problema de tempo. A clínica mostra que, na maior parte das vezes, trata-se de um problema de relação: relação com o próprio corpo, com a excitação, com a expectativa e com o outro. Quando o orgasmo e a ejaculação passam a ser o principal marcador de sucesso sexual, o corpo entra em vigilância constante.

Nessa lógica, tentar controlar o orgasmo apenas pela força de vontade, monitorar o tempo ou “testar” repetidamente se vai gozar costuma aumentar a ansiedade e reforçar o padrão que se quer evitar.

O que costuma ajudar vai na direção oposta. Reduzir a centralidade do orgasmo como objetivo final, permitir que o prazer exista sem a obrigação de um desfecho específico e ampliar o repertório de sensações e estímulos costuma aliviar a pressão interna. Quando a pessoa começa a reconhecer diferentes níveis de excitação no próprio corpo e a trabalhar ansiedade e expectativa — e não apenas o resultado — a relação com o tempo tende a se reorganizar de forma mais natural.




Exercícios simples e possíveis para praticar sem pressa

Vale reforçar: os exercícios abaixo não têm como objetivo “consertar” o corpo ou torná-lo mais controlável. Eles existem para ampliar a escuta, reduzir a urgência e permitir que o prazer deixe de ser um lugar de ameaça para você.

Se, em algum momento, eles gerarem mais cobrança do que curiosidade, isso já é um sinal de que precisam ser interrompidos ou acompanhados.

No exercício de mapeamento corporal, feito sozinho, a proposta é não ir direto ao estímulo mais intenso durante a masturbação. Explorar outras regiões do corpo, variar toque, pressão e ritmo ajuda a observar onde a excitação cresce mais rápido e quais sensações surgem antes do chamado ponto de não retorno. O objetivo não é segurar o orgasmo, mas conhecer melhor o próprio mapa de excitação.

Na pausa consciente, quando a excitação sobe rapidamente, a orientação é interromper o estímulo por alguns segundos, respirar fundo e trazer a atenção para o corpo inteiro, não apenas para o pênis. Retomar o estímulo sem pressa ajuda o corpo a tolerar excitação sem entrar automaticamente em urgência.

Já no exercício de ampliação de foco, durante o sexo, a ideia é deslocar a atenção do pênis para outros elementos da experiência, como a respiração, o contato visual, as sensações de pele, os sons, os cheiros e a temperatura. Isso reduz a hipervigilância apenas em uma região e distribui a excitação pelo corpo.

Muitas pessoas perguntam se esses exercícios “funcionam?”.

Sugiro mudarmos a atenção para outra pergunta: o que você gostaria de mudar em sua relação com o prazer para se sentir mais à vontade em curtir o momento com menos pressa?

 Quando a relação com a excitação muda, o tempo tende a mudar como consequência, sem imposição.


Quando a ejaculação e a ereção falam da mesma coisa

Embora ejaculação prematura e dificuldades de ereção apareçam como queixas diferentes, na clínica é muito comum que elas compartilhem uma mesma raiz. Em ambos os casos, o que costuma estar em jogo não é a falta de desejo, nem um corpo “defeituoso”, mas uma relação marcada por pressão, controle excessivo e ansiedade em torno da performance sexual.

Muitos homens que ejaculam rapidamente também relatam medo constante de perder a ereção. Outros vivem o caminho inverso: tentam segurar a ejaculação com tanta força que acabam saindo do próprio corpo, o que interfere na excitação e na ereção. Quando o sexo passa a ser vivido como algo que precisa ser controlado — seja o tempo do orgasmo, seja a firmeza da ereção — o corpo deixa de responder com espontaneidade e passa a operar em modo de vigilância.

Por isso, entender a ejaculação prematura quase sempre exige olhar também para a relação com a ereção, com o prazer e com a ansiedade sexual como um todo. São manifestações diferentes de um mesmo processo: um corpo que aprendeu que o sexo é um lugar de risco, avaliação ou prova. Se esse tema dialoga com a sua experiência, vale aprofundar essa reflexão no texto em que falo especificamente sobre como a ereção funciona, por que ela falha mesmo quando há desejo e o que realmente ajuda.


Quando procurar ajuda profissional?

Quando a ejaculação prematura gera sofrimento persistente, evita encontros, impacta a autoestima ou compromete a vivência sexual, buscar ajuda profissional não é exagero, é uma questão de saúde e cuidado.

Assim como acontece com a dificuldade de ereção, a ejaculação prematura tende a se agravar quando é vivida em isolamento. Quanto mais alguém tenta resolver isso sozinho, em silêncio, mais o corpo aprende que o sexo é um lugar de risco. Buscar ajuda não é admitir incapacidade, mas interromper um ciclo que se mantém justamente pela tentativa solitária de controle.

Questões relacionadas à sexualidade raramente se resolvem apenas com informação. Elas pedem escuta, tempo e um espaço seguro para serem elaboradas sem julgamento.



Perguntas frequentes sobre ejaculação precoce / prematura


Ejaculação precoce ou prematura é sempre psicológica?

Não. Em alguns casos, fatores biológicos, hormonais ou neurológicos estão envolvidos. Ainda assim, na prática clínica, a maioria das situações envolve uma combinação de aprendizados corporais precoces, ansiedade de desempenho, uma relação tensa com o prazer e dificuldade de permanecer na experiência sem urgência. Por isso, a abordagem mais adequada costuma integrar avaliação médica e acompanhamento psicológico. Em nossa clínica, os profissionais orientam e acompanham esse processo de forma cuidadosa, indicando encaminhamentos médicos sempre que necessário.


Existe um tempo “normal” para ejacular?

Não existe um tempo universal. A variabilidade entre pessoas, contextos e momentos da vida é grande. Do ponto de vista clínico, o critério não é o relógio, mas o sofrimento, a frustração e o impacto que isso gera na vivência sexual e nos vínculos.


Ejacular rápido significa falta de autocontrole ou maturidade emocional?

Não. Ejaculação prematura não é falta de caráter, disciplina ou força de vontade. Na maioria das vezes, é um corpo que aprendeu a responder rápido em contextos de pressão, expectativa ou insegurança. Trata-se de adaptação, não de falha moral.


A ejaculação prematura pode acontecer só com parceiros e não na masturbação?

Sim, isso é bastante comum. Muitas pessoas conseguem permanecer mais tempo na excitação quando estão sozinhas, mas entram em urgência quando há outra pessoa envolvida. Isso costuma indicar ansiedade de desempenho, medo de decepcionar ou hipervigilância em relação ao outro.


Ela pode acontecer apenas em algumas posições ou situações?

Sim. Mudanças de posição, estímulos mais intensos, maior carga emocional ou sensação de exposição podem acelerar a excitação. Observar em quais contextos isso acontece ajuda a compreender melhor o funcionamento do próprio corpo, sem generalizar a dificuldade.


Pornografia pode influenciar a ejaculação prematura?

Pode, especialmente quando o consumo está associado a masturbações rápidas, focadas apenas no orgasmo e feitas em estado de urgência. Isso pode reforçar padrões de excitação acelerada, embora não seja uma causa única nem automática.


Técnicas como “start–stop” funcionam?

Podem ajudar algumas pessoas, mas frequentemente falham quando usadas de forma rígida ou como teste de desempenho. Quando viram mais uma obrigação, tendem a aumentar a ansiedade e a urgência.


Medicamentos resolvem ejaculação prematura?

Podem ajudar em alguns casos específicos, especialmente quando bem indicados. No entanto, raramente resolvem sozinhos. Sem acompanhamento, costumam tratar o sintoma sem modificar o padrão emocional e corporal que sustenta a dificuldade.


Como a terapia pode ajudar

Em nossa clínica, trabalhamos a ejaculação prematura a partir de uma perspectiva que integra corpo, emoção, história e vínculo. O foco não é “consertar” o corpo, mas ajudar cada pessoa a construir uma relação mais segura, menos pressionada e mais prazerosa com a própria sexualidade.

Oferecemos acompanhamento terapêutico online com profissionais especializados em sexualidade, afetos e experiências LGBTQIA+, a partir de uma ética afirmativa, cuidadosa e sem pressa. Cada processo respeita o ritmo, os limites e a singularidade de quem chega.


Referências e leituras recomendadas

Bancroft, J. (2009). Human Sexuality and Its Problems. Elsevier.Kaplan, H. S. (1974). The New Sex Therapy. Brunner/Mazel.Althof, S. E. et al. (2014). ISSM Guidelines for Premature Ejaculation. Sexual Medicine.American Psychiatric Association. (2013). DSM-5. APA.McMahon, C. G. et al. (2016). Disorders of orgasm and ejaculation. Journal of Sexual Medicine.World Health Organization. (2010). Developing sexual health programmes.


Observação editorial: Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica ou acompanhamento psicológico individualizado.

 
 
 

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