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Dar sem dor - sexo anal para amantes e principiantes

  • Foto do escritor: Lucas Liberato
    Lucas Liberato
  • há 4 dias
  • 4 min de leitura

Como reduzir o desconforto e aumentar o prazer durante o sexo anal

Como sexólogo especializado em pessoas LGBT e alguns anos de experiência atendendo homens que fazem sexo com homens, percebo que nos últimos anos, as queixas sobre “não conseguir dar” diminuíram bastante, e surgiram outras, igualmente difíceis. Muitos relatam sentir que existe uma expectativa implícita de que o passivo aguente tudo o que o ativo quiser fazer, independentemente do próprio desejo, do momento ou da proposta daquele encontro. Às vezes não há tesão daquela forma, não é aquela energia que está sendo compartilhada, mas ainda assim surge a sensação de que é preciso corresponder. Como se dizer não, pedir para ir mais devagar ou mudar o rumo da transa fosse uma falha pessoal.

A isso se somam relatos de dor, desconforto e medo. Medo de sujar, medo de algo constrangedor acontecer, medo de não aguentar, medo de frustrar o outro. E quase sempre, junto disso tudo, vem a culpa. Falta espaço para falar com detalhes sobre essas experiências, para elaborar o que acontece no corpo e na cabeça, para verbalizar dúvidas e medos. Sem esse espaço, muitos acabam concluindo que o problema são eles mesmos. Que talvez não sirvam para isso, que nunca vão conseguir “dar direito” ou que estão fazendo algo errado porque não vivem o sexo anal do jeito que aparece nos vídeos.


A prática leva ao costume

Ao longo dos anos, conversando e convivendo com muitos praticantes dessa arte de fazer amor com o bumbum, ficou claro para mim que o desconforto raramente é apenas físico. O corpo não funciona isolado da história, das expectativas e das relações. E o sexo anal não precisa ser uma prova de resistência, quando pode ser uma experiência corporal e sensorial rica e profundamente prazerosa quando se escuta o corpo, respeita o tempo e os próprios limites.

Passivos experientes costumam encontrar suas próprias formas de lidar com os desafios que aparecem no dia a dia. Mas ninguém nasce experiente em nada. A prática, quando feita com cuidado, curiosidade e gentileza, transforma muito a relação com o próprio corpo. O respeito aos limites não empobrece a experiência. Ao contrário, costuma ser o que permite que esses limites se ampliem com segurança.


Cuidados com o corpo

Existem, sim, cuidados físicos importantes. Lubrificação generosa, sempre mais do que parece necessário. Um ânus bem lubrificado não é excesso, é cuidado. Práticas que ajudam o corpo a relaxar fazem parte do básico do sexo anal. Carícias, beijo grego, beijo na boca, presença no momento, palavras que excitam e criam clima. Tudo isso ajuda o corpo a sair do estado de defesa e entrar em um estado de disponibilidade.

Mas nenhum cuidado físico funciona se o corpo estiver emocionalmente tenso. Por isso, além do físico, é fundamental olhar para o próprio desejo e para o estado emocional antes, durante e depois do sexo. A pressão para tolerar a penetração mesmo sentindo dor impede o relaxamento necessário para sentir prazer.

Também existe muita confusão entre fetiche e risco. Gostar de sentir dor ou gostar da ideia de sentir dor não é a mesma coisa que se machucar de verdade. Fantasias de entrega, de servir ou de ser usado são legítimas e fazem parte da diversidade das vivências sexuais. Mas toda prática sexual precisa levar em conta os limites reais do corpo. Aprender a perceber esses limites e respeitá-los, mesmo enquanto se explora e se expande, é essencial para que o prazer não vire um novo trauma.


Aspectos para ter em mente sempre

Do ponto de vista prático, informação reduz ansiedade. Saber como o corpo funciona, entender o que é esperado e o que não é, conversar com profissionais de saúde e com pessoas de confiança facilita escolhas mais inteligentes. Sei que isso pode causar constrangimento no começo. Ainda assim, faz parte da vida adulta cuidar de si e advogar pelo próprio cuidado.

É importante lembrar que quem recebe a penetração deve ter controle do ritmo e da profundidade, especialmente no começo da transa. Isso pode mudar depois, conforme a confiança aumenta e o corpo se acostuma, mas no início faz muita diferença. E isso não é ser chato, nem estragar o clima, mas sim criar as condições para que o corpo possa se entregar.

Lubrificação adequada, comunicação constante e atenção aos sinais do corpo são cuidados básicos. Isso inclui, necessariamente, a atenção do ativo ao desconforto do outro. O passivo tem direito a essa atenção. A possibilidade de parar a qualquer momento, sem constrangimento e sem represálias, é inegociável. Sexo só é bom quando é seguro, consentido e respeitoso para todos os envolvidos.

“Se dou festa, trato bem até quem chega de penetra”, cantou nossa saudosa Preta Gil. O sexo também é uma festa do corpo. Quem recebe e quem participa merecem ser tratados com cuidado. E você merece ser tratado bem no seu próprio corpo.


Em nossa clínica, oferecemos acompanhamento terapêutico online com profissionais especializados em sexualidade, afetos e experiências LGBTQIA+. Se sentir que chegou a hora de olhar para isso com mais cuidado, estamos aqui para conversar.

 
 
 

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