Nem sempre rola de usar camisinha. Às vezes falta acesso, às vezes você e sua parceria não curtem, ou simplesmente bate aquele impulso e ninguém lembra. E, por mais que o preservativo seja importante, não é a única forma de se proteger. A real é que a vida sexual não acontece num comercial de saúde pública onde todo mundo segue o manual direitinho. Por isso é tão importante falar sobre outras formas de prevenção que fazem sentido na vida real.
Pra começar, o termo correto agora é IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis), e não DST. Isso porque nem toda infecção dá sintoma, mas ainda assim pode ser transmitida. Muita gente deixava de fazer exames porque achava que, sem sintomas, tava tudo certo. Errado. A mudança de nome reforça a importância do acompanhamento médico e do sexo consciente, sem o papo de que só quem “fica doente” precisa se preocupar.
Evoluir essa conversa sobre prevenção é essencial. Tem quem ache que falar de PrEP e outras estratégias significa incentivar o sexo sem camisinha, mas é exatamente o contrário. A PrEP revolucionou a luta contra o HIV, reduzindo drasticamente os novos casos. Informação salva vidas, e negar acesso a essas estratégias só perpetua um moralismo que não combina mais com a nossa realidade. O importante é que cada pessoa escolha o que funciona melhor pra sua vida, sem culpa e com responsabilidade.
Seja numa festa, num date ou num surubão, se tem troca de fluidos, tem risco. E é aí que entra a prevenção combinada, que vai além da camisinha.
PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) - Prevenção do HIV
A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) pode ser usada de duas formas: contínua, com uso diário, ou sob demanda, pra quem tem relações pontuais.
No esquema contínuo, a proteção se estabelece após sete dias para homens cis em relações anais e cerca de 20 dias para mulheres cis em relações vaginais receptivas.
Já no esquema sob demanda, a pessoa toma dois comprimidos entre 2 e 24 horas antes da transa, um 24 horas depois e outro 48 horas depois. Ambas exigem disciplina e exames regulares, mas são altamente eficazes.
PEP (Profilaxia Pós-Exposição) - Prevenção do HIV
Outra opção é a PEP (Profilaxia Pós-Exposição), um tratamento de emergência que pode ser iniciado até 72 horas depois de uma situação de risco. O tratamento dura 28 dias e, quanto antes começar, melhor a eficácia. Esse esquema é indicado pra quem teve exposição ao HIV e precisa de uma ação rápida para bloquear a infecção. O acesso é gratuito pelo SUS e deve ser buscado em unidades de saúde ou pronto-atendimentos. Além disso, exames regulares para outras ISTs são recomendados durante e após o uso da PEP, garantindo um acompanhamento completo da saúde sexual.
Como acessar esses tratamentos
A PrEP e a PEP podem ser acessadas de diferentes formas. Pelo SUS, qualquer pessoa pode buscar um serviço de saúde especializado e solicitar a medicação gratuitamente, sem precisar atender a um perfil específico. Além disso, mesmo quem obtém a prescrição de um médico particular pode retirar a medicação na rede pública. Embora muitos acreditem que apenas homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e trabalhadores do sexo possam utilizar a PrEP, a verdade é que qualquer pessoa sexualmente ativa que se expõe ao risco de infecção pelo HIV pode ter acesso e se beneficiar dessa tecnologia.
A PreP e a PEP são seguras
A segurança dos tratamentos com PrEP e PEP é amplamente respaldada por estudos científicos e por organizações de saúde ao redor do mundo. Quando utilizados corretamente, esses medicamentos oferecem uma proteção extremamente eficaz contra o HIV, com poucos efeitos colaterais e sem impacto negativo significativo na saúde a longo prazo. Os principais efeitos adversos relatados, como náuseas leves e alterações gastrointestinais, geralmente desaparecem após as primeiras semanas de uso. Além disso, a PrEP e a PEP não causam resistência ao HIV nem interferem em outros tratamentos, sendo seguras para uso contínuo com o devido acompanhamento médico e exames regulares.
DoxyPEP - Prevenção da sífilis, gonorreia e clamídia
Já a DoxyPEP é uma novidade ainda em estudo, que consiste no uso de doxiciclina, um antibiótico, depois do sexo para prevenir ISTs bacterianas, como sífilis, gonorreia e clamídia. Geralmente, se toma 200 mg do medicamento dentro de 24 horas após a relação. Ainda não está disponível pra todo mundo e requer acompanhamento médico, pois o uso frequente pode gerar resistência bacteriana. Essa abordagem pode ser útil especialmente para grupos com maior exposição a ISTs, mas ainda precisa de mais estudos antes de ser amplamente adotada.
Lubrificante também é prevenção
Outro detalhe que a galera esquece é o lubrificante. Se o sexo vai ser longo e intenso, se rola penetraçãoou se tem substâncias envolvidas que podem diminuir a lubrificação natural, usar lubrificante faz toda a diferença. Ele reduz o atrito, previne machucados e ainda deixa tudo mais confortável.
A ressaca sexual do dia seguinte pode não ser só na cabeça de cima, então bora evitar surpresas desagradáveis. Vale lembrar que lubrificantes à base de óleo não são compatíveis com preservativos de látex, então a melhor escolha é sempre os à base de água ou silicone.
Chemsex - Sexo com uso de substâncias
O chemsex, ou o uso de substâncias para potencializar o sexo, pode afetar diretamente a percepção de risco, levando a decisões impulsivas e aumentando a exposição a ISTs. Algumas drogas reduzem a sensibilidade e prolongam as relações, aumentando o risco de lesões e facilitando a transmissão de infecções. Além disso, a combinação de substâncias pode gerar efeitos colaterais perigosos, como desidratação, sobrecarga cardíaca e comprometimento da memória. Para reduzir danos, é fundamental testar as substâncias antes do uso, evitar misturas arriscadas e ter sempre lubrificante e preservativos acessíveis. O acompanhamento médico e a testagem regular de ISTs também são essenciais para quem pratica chemsex com frequência.
Se você quer se aprofundar mais sobre estratégias seguras no chemsex e como minimizar riscos, confira esses outros dois textos: um sobre redução de danos no uso de drogas e outro com uma tabela de interações entre substâncias. Informação salva vidas, e o cuidado começa pelo conhecimento.
IST’s e o estigma da promiscuidade
Outro ponto importante é o estigma em torno das ISTs, que muitas vezes são associadas à promiscuidade ou a um "tipo" específico de pessoa. Mas a verdade é que IST não tem cara: qualquer pessoa que faz sexo pode pegar uma, inclusive de forma assintomática. O tabu e a vergonha em torno desse tema fazem com que muita gente evite exames ou tenha medo de conversar sobre o assunto, o que só atrapalha o diagnóstico e o tratamento precoce. A única forma de evitar completamente uma IST é não transar – o que, convenhamos, não é uma opção muito viável para a maioria. Então, bora normalizar o cuidado e a prevenção, sem culpa e sem vergonha.
O mais importante aqui é entender que dá pra viver uma sexualidade livre, gostosa e segura sem precisar de moralismo. Informação e cuidado são a chave pra que cada pessoa faça suas escolhas de forma consciente. Se bateu a dúvida, rolou uma situação de risco ou você quer saber mais sobre o que funciona melhor pra você, procura um profissional de saúde ou um SAE (Serviço de Assistência Especializada em IST/HIV/Aids).
I=I (Indetectável = Intransmissível)
E só pra reforçar: quem vive com HIV, faz tratamento e tem carga viral indetectável NÃO transmite o vírus sexualmente. Esse conceito, chamado de I=I (Indetectável = Intransmissível), não só é um avanço científico, como também ajuda a combater o preconceito contra pessoas soropositivas. Ainda assim, exames periódicos são fundamentais para garantir a manutenção dessa condição.
A camisinha não é a única opção, e existem várias estratégias pra prevenir o HIV e outras ISTs. PrEP (contínua ou sob demanda), PEP, DoxyPEP, exames regulares e um papo aberto sobre saúde sexual fazem parte de um cuidado que é sobre você, sobre o outro e sobre curtir sem medo. Bora falar mais sobre isso sem tabu, porque sexo bom é sexo vivido com prazer e responsabilidade — e sem moralismo desnecessário.
Fontes Técnicas e Materiais de Referência
Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO) — Diretrizes sobre redução de danos e prevenção ao HIV (WHO - HIV/AIDS).
Ministério da Saúde (Brasil) — Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas em IST/HIV/Aids (Portal da Saúde).
Centers for Disease Control and Prevention (CDC) — Informações sobre PrEP, PEP, ISTs e estudos sobre DoxyPEP (CDC - HIV Prevention), (CDC - Doxycycline PEP Studies).
National Institute on Drug Abuse (NIDA) — Pesquisas sobre uso de substâncias e redução de danos (NIDA).
European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction (EMCDDA) — Estudos e diretrizes sobre políticas de drogas e saúde pública (EMCDDA).
Aviso Importante (Disclaimer)
Este conteúdo tem finalidade informativa e não substitui avaliação médica, diagnóstico ou prescrição de tratamentos. Em caso de emergência de saúde, entre em contato com o SAMU (192) ou procure um hospital. Para emergências em saúde mental, o Centro de Valorização da Vida (CVV) atende 24 horas pelo telefone 188.
Se tiver dúvidas, consulte um(a) profissional de saúde ou busque ajuda em centros especializados, como os CAPS-AD (para questões de álcool e outras drogas), clínicas e consultórios de confiança. Para informações atualizadas sobre prevenção combinada e redução de danos, acesse os sites das instituições mencionadas acima.
Informação nunca é demais quando o assunto é aproveitar a vida com responsabilidade — ou tão no lugar quanto possível.
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