Há evidências crescentes de que o limiar de atenção das pessoas está diminuindo, especialmente nas últimas décadas. O limiar de atenção refere-se à capacidade de concentrar nossos pensamentos em uma única tarefa ou estímulo por um período determinado. Essa tendência de queda tem sido atribuída a uma série de fatores, muitos deles relacionados ao estilo de vida contemporâneo e ao avanço da tecnologia.
É cada vez mais comum perceber, tanto nas redes sociais quanto em conversas cotidianas, o quanto tem sido difícil manter a atenção ao ler, concluir filmes e séries, ou realizar atividades mais complexas do que apenas rolar o feed e consumir conteúdos aleatórios.
"Imagine seu cérebro como uma lanterna: o feixe de luz representa sua atenção. Quanto mais concentrado esse feixe, maior a sua capacidade de se focar em uma única tarefa. No entanto, diversos fatores internos e externos podem influenciar a intensidade e a duração desse foco."
Desde estímulos ambientais, como ruídos e notificações, até fatores internos, como pensamentos intrusivos e fadiga, tudo pode afetar nossa concentração. Além disso, características individuais, como idade e personalidade, e hábitos como a multitarefa, também desempenham um papel crucial. A importância de um bom limiar de atenção se estende a vários aspectos da vida, desde a aprendizagem e produtividade até os relacionamentos e o bem-estar geral.
Dificuldades como essas levam muitos adultos a buscar informações sobre déficit de atenção, o que frequentemente resulta em uma identificação com o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade).
É comum acreditar que, ao identificar nosso transtorno, problema ou situação, ao nomear aquilo que nos aflige e causa dificuldades, alguma solução estará disponível. Seja um remédio, um método, ou um tratamento que vá direto à causa... Quem nunca?
No entanto, quando se trata de saúde mental, as coisas não são tão simples.
Então, para que serve um diagnóstico de TDAH em adultos? Será que se trata apenas de identificar sintomas em uma lista? É só para quem quer tomar remédio? Vamos explorar essas e outras questões a seguir:
Você Se Reconhece Nessas Situações?
Dificuldade em prestar atenção a detalhes, manter o foco em tarefas por longos períodos e seguir instruções até o fim. Isso pode se manifestar como desorganização, relutância em realizar tarefas que exigem esforço mental prolongado, perda frequente de objetos importantes e fácil distração por estímulos externos. Outros sinais incluem esquecimento em atividades diárias, inquietação, dificuldade em permanecer sentado, impulsividade ao falar ou agir, e interrupções constantes em conversas ou atividades alheias.
Se identificou? Esses são alguns dos critérios diagnósticos de TDAH. Mas isso significa que você tem TDAH? Não necessariamente. Questões de saúde mental não são definidas em termos absolutos.
A maioria dos problemas psicológicos não possui um agente causador bem definido.
Não há um microorganismo, uma alteração neurobiológica identificável, ou um desequilíbrio químico que possa ser detectado em exames laboratoriais ou de imagem, para quase nenhum transtorno. Talvez, no futuro, isso mude para alguns transtornos específicos, mas ainda não é o caso. Por isso, receber o diagnóstico de um transtorno é, em essência, obter uma classificação que orientará as estratégias de tratamento para os problemas que você vem enfrentando. No entanto, isso não fornece uma solução imediata ou uma resposta definitiva.
Mesmo para os problemas em que as medicações apresentam ótimos resultados, raramente o uso exclusivo de medicamentos é suficiente. É na relação terapêutica com seu psicólogo e no trabalho multidisciplinar com outros profissionais (psiquiatra, médico de família, nutricionista, etc.) que caminhos serão descobertos para diminuir o impacto dos sintomas e das dificuldades que eles trazem.
Essa perspectiva nos leva a compreender que tratar e cuidar da saúde mental é um processo em constante adaptação e evolução, ajustando-se às necessidades das próprias pessoas que estão passando por ele.
Reconhecer-se em alguns sintomas de TDAH pode ser o primeiro passo para buscar entender melhor as dificuldades enfrentadas no dia a dia, especialmente em um mundo que exige cada vez mais de nossa atenção e foco.
No entanto, é fundamental lembrar que a identificação com esses sintomas não equivale, por si só, a um diagnóstico de TDAH.
A saúde mental é um campo complexo, onde as soluções raramente são simples ou absolutas.
Receber um diagnóstico pode ajudar a guiar o tratamento, mas ele não deve ser visto como a única resposta. O cuidado com a saúde mental envolve uma abordagem integrada, que vai além de rótulos e classificações. Isso significa considerar as particularidades de cada pessoa, suas experiências, e trabalhar em conjunto com profissionais de diferentes áreas para encontrar as melhores estratégias para melhorar a qualidade de vida.
Em última análise, tratar e cuidar da saúde mental é um processo contínuo, adaptativo e personalizado. Ao focarmos na relação terapêutica e no trabalho multidisciplinar, criamos um caminho mais sólido e eficaz para enfrentar os desafios que o TDAH e outras questões de atenção e concentração podem trazer, sempre com o objetivo de melhorar a sua qualidade de vida.
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